sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Retrato de nosso tempo...

Quando pegamos nosso jornal no café da manhã, esperamos – até mesmo exigimos – que ele nos traga eventos muito importantes acontecidos desde a noite passada. Ligamos o rádio enquanto nos dirigimos de carro para o trabalho e esperamos “notícias” que ocorreram depois que o jornal matutino foi para a impressão. Quando retornamos, à noite, esperamos que nossa casa não apenas nos proteja, que se mantenha aquecida no inverno e fresca no verão, mas que nos relaxe, que nos dignifique, que nos envolva com música suave e hobbies interessantes, que seja um parque de diversões, um cinema e um bar. Esperamos que as férias de duas semanas sejam românticas, exóticas, baratas e não exijam esforços. Esperamos um ambiente distante quando vamos a um lugar próximo; e esperamos que tudo seja relaxante, limpo e americanizado quando vamos a lugares distantes. Esperamos ter novos heróis em cada temporada, uma obra-prima literária por mês, algo espetacular e dramático por semana, uma sensação rara todas as noites. Esperamos que todos se sintam à vontade para discordar e, no entanto, esperamos que todos sejam leais, que não balancem o barco ou usem a Quinta Emenda. Esperamos que todos acreditem profundamente em sua religião, mas que não façam pouco dos que não acreditam. Esperamos que nosso país seja forte, grandioso, vasto, variado e esteja preparado para qualquer desafio; mas esperamos que nosso “propósito nacional” seja claro e simples, algo que direcione a vida de duzentos milhões de pessoas, mas que possa ser vendido numa edição simples na farmácia da esquina por um dólar.

Esperamos tudo e qualquer coisa. Esperamos o contraditório e o impossível. Esperamos carros compactos que sejam espaçosos; carros luxuosos que sejam econômicos. Esperamos ser ricos e caridosos, poderosos e misericordiosos, ativos e reflexivos, gentis e competitivos. Esperamos ficar inspirados com apelos medíocres a favor da “excelência”, a fim de nos tornarmos alfabetizados por apelos analfabetos a favor da alfabetização. Esperamos comer e permanecer magros, estar constantemente nos mudando e cada vez mais próximos da vizinhança, ir à “igreja de sua escolha” e sentir sua força guiadora sobre nós, reverenciar Deus e ser Deus.

Nunca as pessoas dominaram mais seu ambiente. Mas nunca um povo se sentiu mais enganado e decepcionado.


texto de Daniel Boorstin, ex-bibliotecário do Congresso dos EUA, citado por Philip Yancey em Descobrindo DEUS nos Lugares Mais Inesperados (Ed. Mundo Cristão, 2005).

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